Vinte macacos-prego (Sapajus nigritus) que viviam em abrigos clandestinos de diferentes regiões do Paraná ganharam um novo lar nesta quarta-feira (14). Após avaliação de saúde, com bateria de exames e procedimentos cirúrgicos para microchipagem e castração (no caso dos machos), os animais foram transferidos para o Zoológico Municipal de Curitiba.
Lá, após um período de duas semanas de aclimatação, longe dos olhares dos visitação, eles terão uma imensa ilha à disposição, com brinquedos e equipamentos seguros, alimentação saudável e cuidados especiais para reaprenderem a viver em grupo – um dos tantos efeitos colaterais da criação doméstica sem autorização ambiental.
A ação contou com o apoio da Prefeitura de Curitiba, Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba) e Universidade Paranaense (Unipar). “Cuidar bem dos animais é uma missão de quem cuida do meio ambiente. Com esse trabalho vamos garantir um local seguro para esses macacos, em um espaço que é referência nacional em cuidados”, disse o secretário de Desenvolvimento Sustentável, Rafael Greca.
“O cativeiro irregular trouxe vários problemas para esses macacos, principalmente na questão da alimentação, já que os cuidadores geralmente não possuem o conhecimento ou os produtos adequados para alimentá-los de forma apropriada”, afirmou o médico veterinário do Instituto Água e Terra (IAT), Pedro Chaves de Camargo. “Além disso, essas situações são muito propensas para a transmissão de zoonoses e causar diversos tipos de ferimentos, tanto nos animais quanto nos humanos”.
A operação de resgate dos macacos-prego começou em dezembro do ano passado com a formatação da logística e do plano de deslocamento. Foram recapturados (com algumas doações voluntárias) de cidades de oito regionais do IAT com apoio do Batalhão de Polícia Ambiental Força Verde (BPAmb-FV): Francisco Beltrão, Toledo, Curitiba, Foz do Iguaçu, Guarapuava, Londrina, Maringá e Ponta Grossa.
Ficaram algumas horas na sede principal do IAT, em Curitiba, até serem encaminhados, na manhã desta quarta-feira (14), para a clínica veterinária da UniCuritiba, onde todos passaram por uma avaliação geral de saúde. Além disso, foram feitos alguns procedimentos médicos para garantir a adequação dos animais no novo ambiente.
“Como os macacos são animais muito agressivos, e ficaram muito tempo confinados em pontos diferentes do Estado, vamos medicá-los com moduladores de comportamento para que possam se acostumar uns com os outros e viver juntos no novo ambiente”, explicou o coordenador do curso de Medicina Veterinária da UniCuritiba, George Ortmeier Velastin.
Depois, os primatas foram transportados para o Zoológico de Curitiba, onde permanecerão em um espaço inacessível para visitantes por duas semanas para um período de adaptação. Após a conclusão desse processo, serão transferidos para a nova moradia permanente do grupo: o recinto-ilha dos primatas do Zoológico de Curitiba, que antes estava vazio.
“No zoológico os macacos terão como abrigo um espaço grande e serão monitorados por uma equipe de zootecnistas e médicos veterinários qualificados que garantirão qualidade de vida. Terão uma sobrevida muito mais saudável, algo próximo do que eles teriam em vida livre”, destacou Camargo.
“O Zoológico de Curitiba mais uma vez cumpre uma de suas principais funções, que é servir de abrigo à fauna vítima de tráfico e de situações de maus-tratos”, completou o diretor de Pesquisa e Conservação da Fauna, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba, Edson Ferraz Evaristo de Paula.
MACACO-PREGO – O macaco-prego é uma espécie de primata que vive em árvores, de hábitos diurnos, e distribui-se geograficamente em vários países da América do Sul. Se alimenta predominantemente de frutos, mas também de pequenos vertebrados. Os grupos possuem entre 10 e 20 indivíduos, com território de cerca de 355 hectares a 850 hectares. A gestação é de cerca de 180 dias. O filhote nasce com cerca de 210 gramas e permanece agarrado à mãe. A maturidade sexual é alcançada com cinco anos de idade, e os machos só se reproduzem quando asseguram posições elevadas na hierarquia do grupo.
LEGISLAÇÃO – Desde 2011 o Instituto Água e Terra é responsável, em parceria com os municípios, por toda gestão e o controle da fauna silvestre em cativeiro, além de dar suporte para as ações de fiscalização, apreensão, reabilitação, monitoramento da fauna vitimada pelo comércio ilegal, tráfico, cativeiro irregular e de maus-tratos; assim como visa a conservação da fauna silvestre presente na região.
De acordo com a o artigo 29 da Lei de Crimes Ambientais (nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998), é proibido “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”, com pena prevista de seis meses a um ano de prisão, além da multa.
DENUNCIE – Ao avistar animais machucados ou vítimas de maus-tratos, tráfico ilegal ou cativeiro irregular, o cidadão deve entrar em contato com a Ouvidoria do Instituto Água e Terra ou da Polícia Militar do Paraná.
Se preferir, outra opção é ligar para o Disque Denúncia 181 e informar de forma objetiva e precisa a localização e o que aconteceu com o animal. Quanto mais detalhes sobre a ocorrência, melhor será a apuração dos fatos e mais rapidamente as equipes conseguem fazer o atendimento.